Se você tem um cão ou conhece alguém que tenha, já deve ter notado que a
maioria dos donos costuma dizer que seus animais de estimação são leais e
sociáveis.
No mês passado, usando um teste astuto, cientistas da Universidade de
Kyoto, no Japão, demonstraram que cachorros evitam pessoas que estes (os cães)
testemunharam ser pouco amigáveis com seus donos.
A experiência foi desenvolvida para testar se cães podem avaliar a
interação entre humanos em torno de um determinado objeto.
O resultado mostrou que a maior parte dos animais recusou comida
oferecida pelas pessoas que eles viram agindo negativamente com seus donos,
como, por exemplo, ignorando-os.
Testemunhas oculares
Durante o teste, os donos tinham que retirar um objeto dentro de um
frasco transparente e lacrado, obrigando-os a pedir ajuda a um ator a seu lado.
Os cães testemunhavam a cena.
Na primeira fase da experiência, o ator se recusava a ajudar e dava às
costas aos donos dos cachorros. Em seguida, outro ator ajuda a segurar o
recipiente enquanto o voluntário o abre para pegar o objeto.
Por fim, em um teste de controle, um terceiro ator se voltava para o
dono e o observava em sua tentativa, mas não era requisitado.
Em cada uma das situações, uma pessoa neutra se sentava do outro lado do
dono e não participava da atividade.
Imediatamente depois de cada experimento, o ator e a outra pessoa
ofereciam comida ao cachorro. Os estudiosos perceberam, então, que os animais
evitavam o ator pouco prestativo, que não foi simpático com seus donos.
No entanto, eles aceitavam o agrado feito pelo ator que ajudou o dono,
pelo ator do grupo de controle e pela pessoa neutra. Mas não apresentaram uma
tendência a confiar necessariamente mais no ator prestativo.
Espionagem social
O estudo contou com 54 cães de várias raças e seus donos, e foi
publicado na revista Animal Behaviour em junho.
O fato de os animais evitarem alguém que foi negativo com seus donos
sugerem que eles podem entender as interações entre terceiros, o que é
conhecido como "espionagem social".
Poucos animais não-primatas são capazes de fazer isso.
Outro exemplo interessante do fenômeno é o bodião-limpador (Labroides
dimidiatus), um pequeno peixe que se alimenta de parasitas de animais
maiores. Já foi comprovado que a espécie prefere ficar perto de peixes
"cooperativos" do que de "charlatões" que eles viram
remover muco e não parasitas.
O ser humano é o espião social mais prolífico. Frequentemente ajudamos
os outros sem procurarmos por um benefício óbvio. Isso facilita com que
operemos no que cientistas chamam de "sociedades cooperativas de larga
escala".
Em humanos, essa sensibilidade às interações entre outros começa cedo.
Bebês de seis meses podem avaliar outras pessoas baseados em seu comportamento
social, segundo um estudo, preferindo quem se apresenta como mais prestativo.
Sabe-se que os cães são bastante sensíveis aos atos humanos direcionados
a eles, mas ainda se discutia se eles seriam capazes de avaliar interações com
terceiros.
O novo estudo é mais uma prova de que eles fazem isso.
Os autores da pesquisa japonesa destacam ainda o fato de os donos
envolvidos terem influenciado o resultado, escrevendo: "A ligação entre
cães e seus donos pode ser forte, e os animais podem ser particularmente
sensíveis à maneira como outras pessoas tratam os indivíduos".
Portanto, se você tem um cachorro, pode se consolar com a ideia de que
se alguém lhe tratar mal, ao menos terá um amigo ao seu lado.