Muito
interessante a matéria!
Os
cientistas deduziram que essa capacidade pode ajudar na caça.
O nariz gelado do seu cão pode ser
um sensor para detectar calor à distância.
O incrível nariz
canino é mais impressionante do que pensávamos, demonstrando a capacidade de
detectar fraca radiação infravermelha à distância, de acordo com uma nova pesquisa.
O rinário –
a ponta fria, úmida e nua do focinho de um cachorro – é capaz de detectar fraca
radiação térmica, de acordo com uma nova pesquisa publicada nesta sexta-feira
(28) no Scientific Reports. O nariz canino, portanto, além de captar os aromas,
serve efetivamente como um sensor de radiação térmica.
Em vez de
detectar calor por condução (contato direto entre superfícies) ou convecção
(calor transferido por um meio como o ar), o nariz pode detectar diretamente a
radiação infravermelha fraca liberada por um corpo ou objeto quente através de
fótons. Essa habilidade ajudaria o carnívoro a detectar presas de sangue
quente. A descoberta foi feita por uma equipe colaborativa da Universidade
Lund, na Suécia, e da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, que são os
primeiros a relatar essa capacidade em cães ou em qualquer mamífero carnívoro.
Outros
mamíferos, como toupeiras e guaxinins, têm rinários, que eles usam para
sensibilidade tátil. Esse tipo de sensibilidade, no entanto, é reduzido em
mamíferos com rinário frio, como cães, levando os cientistas a suspeitar que
ele seja usado para algo diferente do senso tátil.
Dito isto,
há uma exceção no reino animal: as víboras, às vezes chamadas de cobras
crotalinas. Esses répteis têm órgãos sensíveis localizados entre cada olho e
narina, que operam de maneira ideal a baixas temperaturas, permitindo que as
cobras atinjam suas presas com extrema precisão.
Inspirados pelas víboras, os pesquisadores, liderados por Anna Bálint, da
Universidade de Lund, se perguntaram se lobos e outros carnívoros que caçam
grandes mamíferos também teriam a capacidade de detectar sinais infravermelhos
fracos emanados de suas presas quentes.
Agora, a
capacidade de sentir o calor remotamente pode não parecer grande coisa. Um ser
humano segurando a mão sobre um fogão quente certamente pode sentir o calor. A
diferença aqui, de acordo com Bálint, tem a ver com os diferentes mecanismos de
transferência de calor, dos quais existem pelo menos três tipos básicos:
condução térmica, convecção térmica e radiação térmica.
Na
condução, o calor é transferido através do contato direto entre dois objetos,
enquanto na convecção o calor é transferido através de um meio, como um fluido
ou gás. No caso da radiação, o calor é transferido via fótons como radiação
eletromagnética e pode até acontecer no vácuo, disse Bálint ao Gizmodo em um
e-mail.
“Então, nós
humanos – e também os cães – temos termorreceptores em nossa pele e podemos
sentir o calor por todos os meios de transferência de calor”, por exemplo,
“podemos sentir o calor do sol em nossa pele através de radiação térmica”,
escreveu Bálint. “A diferença aqui é que se trata de radiação térmica de
intensidade muito baixa – ou radiação térmica fraca – porque a temperatura dos
corpos dos mamíferos que a emitem não é muito alta, ao contrário do Sol, por
exemplo”. Isso significa que um animal precisa ter “sensores muito sensíveis
para detectá-lo”, disse ela ao Gizmodo.
Bálint e
seus colegas ainda não sabem como esse sentido poderia funcionar em cães, mas
eles sabem que, entre animais muito sensíveis ao calor, como as cobras
crotalinas, o “mecanismo de recepção da radiação térmica não é qualitativamente
diferente de outros tipos de termorecepção, é simplesmente muito mais
sensível”, disse ela.
Para testar
essa suposição de que os carnívoros podem usar seu rinário para detectar fraca
radiação térmica, os pesquisadores realizaram dois conjuntos de testes em cães,
que compartilham um ancestral evolutivo comum recente com os lobos modernos.
O primeiro
teste, realizado na Universidade de Lund, envolveu três cães treinados para
detectar o calor que emana de um objeto. Esse objeto media 102 milímetros de
largura e foi aquecido em torno de 11 a 13 graus Celsius acima da temperatura
ambiente, para imitar a temperatura corporal de um mamífero peludo. Um segundo
objeto, o controle, tinha uma temperatura neutra igual ao ambiente.
Durante o
teste, esses dois objetos foram colocados a cerca de 1,6 metro de distância dos
cães, o que os pesquisadores descreveram como uma distância razoável de caça.
Os cães tiveram que detectar o objeto mais quente, mas a essa distância. É importante ressaltar que os objetos não
eram visualmente distinguíveis – ambos eram cobertos pela mesma fita isolante
preta e os próprios treinadores não sabiam qual dos dois objetos era o correto
(portanto, eram incapazes de influenciar os cães, mesmo que inconscientemente).
“Todos os
três cães puderam detectar estímulos de fraca radiação térmica em experimentos
duplo-cegos”, segundo o estudo.
A segunda
fase do teste, realizada na Universidade Eötvös Loránd, observou 13 cães
colocados dentro de um scanner de ressonância magnética. Os animais foram
expostos a objetos semelhantes – um quente e outro à temperatura ambiente –
enquanto seus cérebros eram examinados. Quando expostos ao objeto quente, o
córtex somatossensorial esquerdo em seus cérebros se acendeu, apontando para
uma maior resposta neural ao estímulo térmico mais quente.
“Demonstrar
que existe uma região no córtex que responde mais a um objeto mais quente do
que a uma temperatura ambiente complementa e dá mais suporte aos resultados
comportamentais”, disse Bálint.
Analisadas
em conjunto, essas evidências sugerem que cães, e possivelmente lobos e outros
carnívoros com rinários frios, são capazes de detectar fraca radiação térmica à
distância e que essas informações podem ajudar na caça. Os morcegos são o único
outro mamífero com capacidade semelhante e usam essa habilidade para encontrar
áreas da pele ricas em sangue.
O rinário
foi considerado o órgão mais provável responsável pela capacidade, já que
nenhuma outra parte da anatomia canina, além dos olhos, era considerada capaz
disso, segundo os pesquisadores.
“Existem
apenas dois pedaços de pele nua na face do cachorro que podem receber radiação
de calor: os olhos e o rinário”, escreveu Ronald Kröger, coautor do estudo e
pesquisador da Universidade de Lund, em um e-mail para o Gizmodo. “Os olhos não
são adequados para receber radiação infravermelha, porque as estruturas
sensíveis estão escondidas atrás de uma espessa camada de tecido”.
É
importante ressaltar que os pesquisadores não realizaram um teste para
verificar se essa habilidade recém-descoberta realmente ajuda os cães a
encontrar presas. Os cães foram capazes de detectar os objetos quentes a uma
distância de 1,6 metros, o que parece uma distância relativamente próxima. Como
essa capacidade pode ajudar em um cenário de caça no mundo real permanece uma pergunta
sem resposta.
Ao mesmo
tempo, nenhum mecanismo celular ou molecular foi identificado na nova pesquisa
que pudesse ser atribuído a essa capacidade, nem os pesquisadores mediram os
comprimentos de onda exatos aos quais os cães são sensíveis. Dito isto, Kröger
suspeita que células especiais no rinário sejam sensíveis aos fótons
infravermelhos, provavelmente em comprimentos de onda inferiores a 7
micrômetros.
“O
mecanismo exato da termorecepção ainda não está claro”, disse Bálint ao
Gizmodo. “A estrutura do rinário do cão é diferente dos órgãos sensíveis ao
infravermelho conhecidos, como das cobras crotalinas, então pode ser que os
mecanismos celulares-moleculares subjacentes sejam diferentes”.
Pesquisas
futuras devem agora se concentrar nessas lacunas e também considerar outros
mamíferos. Futuramente, Bálint disse que sua equipe gostaria de determinar os
limites do sentido, investigar os detalhes moleculares do processo e testar as
habilidades de outras espécies.
De fato, a
habilidade dos cães de sentirem radiação térmica fraca é uma descoberta
fascinante e certamente merece um estudo mais aprofundado. A próxima vez que
seu cachorro o cutucar com o nariz molhado e desconfortavelmente gelado, talvez
você possa apreciar melhor a ciência por trás disso.