Cães distinguem
ações propositais das acidentais nos humanos, mostra estudo.
Experimento
alemão com 51 cachorros mostrou que eles sabem ler intenções, uma habilidade
rara na natureza.
SÃO PAULO — Muitos donos de cães têm a intuição de que seus animais vão entender suas vontades. Esses animais sabem antecipar o comportamento de humanos, mas uma pergunta ainda não tinha sido respondida pela ciência: cães de fato têm consciência da intenção dos humanos, ou apenas reagem mecanicamente a suas atitudes? Um novo estudo indica que a primeira hipótese deve ser a correta.
A resposta saiu
de um experimento liderado por psicólogas alemãs da Universidade de Göttingen,
que submeteram 51 cães a um teste engenhoso. Num artigo publicado nesta
quarta-feira na revista Scientific Reports, as pesquisadoras, lideradas por
Britta Schünemann, descrevem como foi o trabalho.
O teste ao qual
os cachorros foram submetidos consistia essencialmente na encenação de uma
situação na qual os pesquisadores tentavam alimentar os animais, mas não
conseguiam. Os cientistas tinham de passar um pedaço de alimento por meio de
uma fenda numa cerca transparente e ver como os animais reagiam.
Para diferenciar
o comportamento dos animais, o desenho do experimento tinha três situações
diferentes. Na primeira, os humanos deixavam cair a comida “sem querer” no chão
antes de passá-la ao animal. Na segunda, eles eram impedidos de passar por um
bloqueio na cerca. Na terceira, os pesquisadores simplesmente mostravam a
comida e se negavam a entregá-la através da cerca.
A ideia dos
pesquisadores era que, caso o comportamento dos cachorros fosse diferente
nessas três situações, isso significaria que eles entendem a intenção dos
humanos, já que o resultado final nos três casos era sempre o mesmo: a comida
não era entregue.
Após repetir cada
um dos procedimentos com os cães, o que os cientistas faziam era cronometrar
quanto tempo o cão levava para perder a paciência até dar a volta na cerca para
buscar o pedaço de alimento diretamente.
Teoria da mente
O desenho da
pesquisa foi inspirado em experimentos similares feitos com crianças, em um
paradigma apelidado de “incapacidade contra má vontade”.
O tempo variava
entre cada animal, mas em média todos tiveram duas vezes mais paciência de
esperar assistindo aos humanos tentarem lhes dar comida por uma passagem
bloqueada do que em esperar aqueles que pareciam não querer alimentá-los.
Aqueles que viam os humanos deixarem a comida cair “acidentalmente” ficaram no
meio-termo.
“Os cães
claramente distiguiam em seu comportamento espontâneo entre as condições de
incapacidade e má vontade. Isso indica que os cachorros de fato distinguem
ações intencionais de comportamento acidental”, escreveram Schünemann e as outras
pesquisadoras no estudo.
Nem todos os
experimentos de inteligência animal confirmam as intuições dos donos de bichos
de estimação. Cães evoluíram por vários milênios moldando seu comportamento ao
dos humanos que viviam próximos, e muito daquilo que fazem ocorre por um
contexto de condicionamento simples, que não envolve necessariamente a
compreensão de uma situação.
A capacidade de
ler intenções de terceiros, porém, que psicólogos costumam chamar de “teoria da
mente”, aparentemente é uma habilidade que de fato os caninos têm, dizem as
cientistas no estudo. As pesquisadoras sugerem que mais estudos do gênero sejam
feitos para dar uma resposta mais robusta à questão.
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