Amigos e amigas,
O texto a seguir foi divulgado em um seminário da ARCA Brasil, de 2008. Nele é abordada a questão do extermínio de milhares de cães, de rua ou mesmo com donos, por serem portadores de Leishmaniose, devido à uma portaria absurda dos Ministérios da Saúde e da Agricultura. A seguir vocês poderão ler uma reportagem, do Correio Braziliense, de 28/11/2008, com uma entrevista com a presidente da Sociedade Protetora dos Animais, Simone Lima, onde vários aspectos importantes são abordados e, ao final, duas imagens com informações sobre o tratamento e dicas para prevenir a Leishmaniose.
Texto divulgado no seminário da ARCA Brasil:
Governo Federal condena milhares de cães à morte
Cães contaminados com o protozoário causador da Leishmaniose, doença grave que atinge seres humanos e animais, estão fadados à morte. Isso porque uma portaria (N˚ 1.426, de 11 de julho de 2008) editada pelos ministérios da Saúde e da Agricultura proíbe a utilização de medicamentos (de uso humano ou não) para o tratamento.
Cães contaminados com o protozoário causador da Leishmaniose, doença grave que atinge seres humanos e animais, estão fadados à morte. Isso porque uma portaria (N˚ 1.426, de 11 de julho de 2008) editada pelos ministérios da Saúde e da Agricultura proíbe a utilização de medicamentos (de uso humano ou não) para o tratamento. O texto não cita explicitamente a execução dos cães, no entanto, sem acesso às drogas a alternativa que resta para veterinários, agentes de saúde pública e proprietários é a "eutanásia".
A ARCA Brasil, organização não-governamental que promove o bem-estar e o respeito aos direitos dos animais, rechaça veementemente esse posicionamento do governo brasileiro, considerado arbitrário e sem embasamento científico. Segundo a portaria, não existe até o momento fármacos ou terapias que garantam a eficácia do tratamento canino, bem como a redução do risco de transmissão. Essa argumentação é falsa e facilmente rebatida pela comunidade internacional de médicos veterinários.
“A falta de capacidade do governo para enfrentar adequadamente o problema é latente. Ao invés de investir em políticas públicas de prevenção, como o combate ao mosquito transmissor, parece ser mais fácil editar uma norma nazista que não deixa saída para o melhor amigo do homem", afirma o presidente da ARCA Brasil, Marco Ciampi.
Em cidades que apresentam epidemia de Leishmaniose a população canina está sendo dizimada. Campo Grande (MS) é um exemplo. De acordo com a veterinária e advogada Maria Lucia Metello, entre 40% e 50% dos animais já foram sacrificados. "Hoje é praticamente impossível fazer campanhas de adoção. Faltam cães disponíveis e até casos de furtos já tomamos conhecimento", diz.
São várias as opções de tratamento e prevenção disponíveis, lembra o professor de medicina veterinária da PUC de Belo Horizonte, Vitor Ribeiro. "A eutanásia deve ser o último recurso."
Por que, então, o governo brasileiro tomou essa atitude? Uma série de perguntas precisam de respostas:
- Na Europa existem medicamentos para o tratamento da Leishmaniose canina e que apresentam resultados bastante satisfatórios. Por que não incentivar a importação ou a produção local?
- A droga para tratamento da Leishmaniose humana está disponível no Brasil e é barata. Por que proibir o uso?
- O mosquito é o único transmissor do agente causador da Leishmaniose. O cão, assim como diversos outros animais, atua apenas como hospedeiro. Por que não concentrar os esforços na eliminação do inseto?
- Está disponível no mercado brasileiro uma vacina veterinária que previne a doença. Em áreas endêmicas, estudos indicam que o índice de proteção chega a 95%. Por que não promover campanhas de vacinação em massa, assim como é feita para a Raiva?
- Diversos produtos, desde inseticidas até coleiras que liberam repelentes, estão disponíveis e ajudam a proteger o cão do mosquito transmissor. Por que não incentivar o uso?
Em cidades que apresentam epidemia de Leishmaniose a população canina está sendo dizimada. Campo Grande (MS) é um exemplo. De acordo com a veterinária e advogada Maria Lucia Metello, entre 40% e 50% dos animais já foram sacrificados. "Hoje é praticamente impossível fazer campanhas de adoção. Faltam cães disponíveis e até casos de furtos já tomamos conhecimento", diz.
São várias as opções de tratamento e prevenção disponíveis, lembra o professor de medicina veterinária da PUC de Belo Horizonte, Vitor Ribeiro. "A eutanásia deve ser o último recurso."
Por que, então, o governo brasileiro tomou essa atitude? Uma série de perguntas precisam de respostas:
- Na Europa existem medicamentos para o tratamento da Leishmaniose canina e que apresentam resultados bastante satisfatórios. Por que não incentivar a importação ou a produção local?
- A droga para tratamento da Leishmaniose humana está disponível no Brasil e é barata. Por que proibir o uso?
- O mosquito é o único transmissor do agente causador da Leishmaniose. O cão, assim como diversos outros animais, atua apenas como hospedeiro. Por que não concentrar os esforços na eliminação do inseto?
- Está disponível no mercado brasileiro uma vacina veterinária que previne a doença. Em áreas endêmicas, estudos indicam que o índice de proteção chega a 95%. Por que não promover campanhas de vacinação em massa, assim como é feita para a Raiva?
- Diversos produtos, desde inseticidas até coleiras que liberam repelentes, estão disponíveis e ajudam a proteger o cão do mosquito transmissor. Por que não incentivar o uso?
- É consenso entre a comunidade científica que um dos principais desafios impostos pela Leishmaniose é o diagnóstico, já que ainda não existe um método que garanta 100% de certeza. Por que, então, condenar à morte cães que podem nem estar com a doença?
- O médico veterinário é o profissional capacitado para decidir o melhor tratamento para o seu paciente. Por que lhe tirar esse direito?
- O médico veterinário é o profissional capacitado para decidir o melhor tratamento para o seu paciente. Por que lhe tirar esse direito?
Reportagem do Correio Brasiliense
Um dos bairros mais nobres da capital federal está ameaçado pela leishmaniose. Dos 6.132 cachorros examinados no Lago Norte, 1.093 apresentaram resultado positivo para o protozoário causador da doença, o que representa 17,8% dos animais. O inquérito sorológico, realizado pela Secretaria de Saúde, foi concluído esta semana e deixou as autoridades sanitárias em alerta. Se o mosquito transmissor sugar o sangue de um cão doente e em seguida picar o homem, pode haver contaminação. A leishmaniose atinge as vísceras e é fatal, especialmente em crianças e idosos. Para evitar casos humanos, a recomendação oficial é que os animais doentes sejam sacrificados. Hoje à noite, moradores vão se reunir com representantes do governo e do Ministério Público para discutir uma solução para esse grave problema de saúde pública.
O encontro para definir uma estratégia de combate à doença será hoje, a partir das 19h30, no auditório do Colégio do Sol (CA 6 Lote A). A disseminação da leishmaniose no Lago Norte causa preocupação entre os moradores. Os consultórios veterinários da região estão lotados de proprietários de cães com dúvidas sobre a doença e em busca de exames, vacinas ou tratamento. Os donos de animais doentes se dividem quanto ao destino dos bichos: alguns preferem sacrificá-los para eliminar qualquer chance de casos humanos. Outros prometem comprar briga com a Secretaria de Saúde para tentar tratar os cães e mantê-los vivos.
Com a conclusão do inquérito sorológico, o governo vai definir um plano para evitar a contaminação de humanos com o protozoário leishmania. O primeiro passo será sacrificar os bichos com resultado positivo para leishmaniose. "A orientação do Ministério da Saúde é a eliminação de todos os animais com sorologia positiva. Os proprietários podem entregá-los à Zoonoses ou fazer o sacrifício em um consultório veterinário particular. Mas é preciso que todos sejam sacrificados", destaca a subsecretária de Vigilância à Saúde, Disney Antezana.
O sacrifício de cães doentes é uma medida polêmica. Especialistas garantem que os animais com resultado positivo para a leishmania podem não estar infectados. Isso porque nos casos de cachorros vacinados contra a doença, os anticorpos se confundem com os protozoários no exame sorológico. "E não é só por causa da vacina. Animais que têm a doença do carrapato, muito comum em cachorros, também podem apresentar falso positivo para leishmaniose", explica a presidente da Sociedade Protetora dos Animais, Simone Lima.
Ela defende o direito de os proprietários realizarem uma contraprova com método diferente do aplicado pela Secretaria de Saúde. "O exame sorológico da Zoonoses não é um diagnóstico definitivo, mas uma indicação de que o cachorro pode estar doente. Há outros métodos mais precisos, como a punção de medula. O proprietário deve ter o direito de realizar uma contraprova caso a sorologia aponte a presença da leishmania", defende a presidente da entidade protetora.
O Manual de Controle e Vigilância da Leishmaniose Visceral, publicação do Ministério da Saúde lançada em 2006 e usada como referência nacional para o combate à doença, não valida exames como a punção de medula. "Em situações em que o proprietário do animal exigir contraprova, essa deverá ser uma prova sorológica, realizada por laboratório da rede", indica o manual do Ministério da Saúde.
O tratamento de cães doentes não é uma medida recomendada porque, segundo o Ministério da Saúde, isso não diminui o risco do cão como reservatório do parasita. "O uso rotineiro de drogas em cães induz à remissão temporária dos sinais clínicos, não previne a ocorrência de recidivas e leva ao risco de selecionar parasitas resistentes às drogas utilizadas para o tratamento humano", aponta o Manual de Controle e Vigilância da Leishmaniose Visceral do Ministério da Saúde.
Tira-dúvidas
1 - Quais são os métodos para detectar a Leishmaniose em cães?
Há pelo menos quatro exames que detectam a leishmaniose em cães. O recomendado pelo Ministério da Saúde é o método da imunofluorescência, que se baseia na detecção de anticorpos antileishmania. No método Elisa, o plasma sangüíneo do animal é analisado. O exame conhecido como PCR, ou Reação em Cadeia de Polimerase, é um dos mais sensíveis. O teste permite a detecção do parasita com amplificação do DNA da leishmania. O último método é o exame parasitológico direto, realizado por meio de punção da medula óssea. Esse exame é o mais preciso: quando dá positivo, não deixa dúvidas quanto à condição do animal.
2 - Existe vacina contra a Leishmaniose canina? Ela é recomendada?
As clínicas veterinárias de Brasília oferecem a vacina Leishmune, fabricada pela empresa Fort Dodge. A recomendação dos veterinários é que os animais tomem três doses, cada uma a um custo de cerca de R$ 80. O produto é regulamentado pelo Ministério da Agricultura, mas não é reconhecido pelo Ministério da Saúde como forma efetiva de prevenir a leishmaniose em humanos. O problema da vacina é que, quando o animal imunizado é submetido a um exame sorológico, ele pode ser apontado como infectado pelo leishmania. Isso porque, na sorologia, os anticorpos se confundem com parasitas ativos. O Ministério da Saúde é contra a vacinação para evitar falsos positivos. A orientação para exames positivos, independentemente se o animal é vacinado ou não, é sempre o sacrifício.
3 - Como proceder em caso de exame positivo para leishmaniose em cães?
A Secretaria de Saúde recomenda que todos os cães com resultado positivo no exame sorológico sejam sacrificados. Os proprietários podem entregar os animais na Zoonoses, que faz a eutanásia com injeção letal, ou recorrer a veterinários particulares, que cobram de R$ 250 a R$ 300 e usam o mesmo método. Já a Sociedade Protetora dos Animais recomenda que, caso o exame sorológico dê positivo, o proprietário faça exames particulares mais acurados, como a punção de medula. O argumento é que o exame sorológico pode apresentar falso positivo. A Secretaria de Saúde defende que a positividade na sorologia já é um resultado suficiente e definitivo para o sacrifício.
4 - É possível combater o mosquito para evitar casos da doença em cães e humanos?
Sim, com medidas de manejo ambiental é possível reduzir a incidência do flebótomo, mosquito transmissor da leishmaniose. A Vigilância Ambiental recomenda que as pessoas evitem deixar galhos e folhas secas acumulados. Galinheiros e canis devem ser mantidos limpos e os proprietários devem evitar manter materiais orgânicos ao ar livre. Onde não há casos humanos, a Secretaria de Saúde não faz aplicação de inseticida.
5 - Quais os sintomas da doença em cães e em humanos?
Os sintomas mais freqüentes em humanos são febre, aumento do volume do fígado e do baço, emagrecimento, complicações cardíacas e circulatórias, desânimo, prostração, apatia e palidez. Pode haver tosse, diarréia, respiração acelerada, hemorragias e sinais de infecções associadas. Quando não tratada, a doença evolui e leva à morte 90% dos doentes.
Nos cães, a leishmaniose causa lesões cutâneas, principalmente descamação e eczema, em particular na região nasal e orelha, que fica com pequenas úlceras. O pêlo fica opaco e o cachorro pode ter coriza, apatia, diarréia, hemorragia intestinal, edema de patas, vômito e crescimento rápido das unhas. Cães infectados podem permanecer sem qualquer sinal clínico por um longo período.
Se não tratada, doença é fatal
A leishmaniose é a segunda causa de morte entre as doenças parasitárias no Brasil. Os impactos do protozoário no corpo humano costumam ser fatais, especialmente em crianças e idosos. A pessoa infectada tem febre, aumento do volume abdominal, inchaço do fígado e do baço. Em casos graves, pode haver rompimento de órgãos. Quando não tratada, leva à morte até 90% dos doentes.
No Hospital Universitário de Brasília (HUB) há um núcleo de estudos sobre leishmaniose. A médica Raimunda Nonata Ribeiro Sampaio, professora do Departamento de Clínica Médica da UnB e integrante do grupo, ressalta a importância do tratamento. "A doença é chamada leishmaniose visceral porque ataca as vísceras. Daí a gravidade dos casos", explica a especialista, que é contra o sacrifício imediato de cães após a sorologia positiva. "Nos países europeus, por exemplo, os cachorros doentes não são eliminados, mas tratados. Aqui no Brasil, isso seria mais complicado, mas é preciso analisar as particularidades de cada caso, em vez de eliminar os animais logo depois da sorologia. Há exames mais sofisticados para detectar o protozoário", acrescenta Raimunda.
Aprendam a reconhecer o Flebótomo, o mosquito transmissor da Leishmania, o protozoário causador da doença.
Dicas de Prevenção e Tratamento
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