Caros amigos e
visitantes,
O texto a seguir foi postado
em minha comunidade de proteção animal, por uma amiga e médica veterinária, mas
espero que vocês nunca precisem tomar as medidas indicadas a seguir.
Um abraço,
Reginaldo Ribeiro.
Manejo
Emergencial das Intoxicações
Primeiramente eu gostaria de
comentar sobre como devemos lidar com a exposição à substâncias nocivas
externas. Os casos mais comuns costumam acometer os olhos e a pele.
Na irritação ocular, os olhos
do paciente devem ser enxaguados com água ou solução salina por pelo menos
20-30 minutos. Após esse procedimento, geralmente utilizamos lubricantes
oleosos e examinamos para possíveis danos à córnea. Como monitoramento, é
importante verificar periodicamente por alterações como hiperemia (*vermelhidão),
blefaroespasmo (*contração repetitiva e rítmica dos músculos da pálpebra),
lacrimejamento e dor. Na exposição da pele, o paciente deve ser lavado e o
produto mais comumente utilizado é o sabão de louça comum. Banhos devem ser
repetidos para remover completamente o agente tóxico. É importante enxaguar bem
o paciente com água morna para retirar todo o sabão. Para secar, pode-se
utilizar toalhas aquecidas para manter uma temperatura constante e evitar
hipotermia.
Mas o grande perigo está na
ingestão de substâncias tóxicas. Existem diversos procedimentos para lidar com
essa emergência. É importante lembrar que provocar emese (*vômito) não é
sempre recomendável, especialmente quando se trata de substâncias corrosivas.
Em casos onde existe a suspeita de ingestão de substâncias corrosivas, o ideal
é tentar diluir o agente, e isso pode ser feito através da administração de
água ou leite em combinação com demulecentes na dose de 1-3mg/kg.
Nos casos onde a emese é
indicada, ela é mais eficaz quando realizada dentro de 2-3 horas após ingestão
da substância tóxica. A emese geralmente esvazia 40-60% do conteúdo estomacal e
assumimos que é mais eficaz do que a lavagem gástrica. Outro detalhe sobre
induzir emese é que essa não deve ser provocada em roedores, coelhos, pássaros,
cavalos e ruminantes. Deve-se evitar induzir emese quando se trata de agentes
como bases, ácidos, corrosivos e hidrocarbonos. Condições pré-existentes também
limitam a prática deste procedimento (animais com epilepsia, doenças
cardiovasculares, debilitados ou que acabaram de passar por procedimentos
cirúrgicos abdominais). Algumas substâncias tóxicas possuem efeitos anti-emético
(fenotiazínicos, antihistaminicos, barbitúricos, narcóticos, antidepressivos e
marijuana), nesses casos, induzir a emese pode ser dificultada.
Outro procedimento utilizado
em caso de ingestão de agentes tóxicos é a administração de carvão ativado (de
uso hospitalar). O carvão ativado ajuda a adsorver agentes químicos ou tóxicos,
facilitando a excreção do mesmo via fezes. É geralmente utilizado quando o
paciente ingere venenos orgânicos, químicos ou toxinas bacterianas. A dose
recomendada para todas as espécies é 1-3 gms/kg. Pode ser repetida cada 4-8
horas na metade da dose. Esse tipo de procedimento não deve, no entanto, ser
realizado caso haja suspeita de ingestão de materiais cáustico. Esse tipo de
material não é absorvido e com isso o carvão ativado pode acabar mascarando
severas lesões por queimaduras na boca e no esôfago. Existem outros agentes
químicos que não costumam ser adsorvido eficazmente pelo carvão ativado
(Etanol, metanol, fertilizantes, flúor, destilados de petróleo, metais pesados,
iodo, nitratos, nitrito, cloreto de sódio e cloratos. Para aumentar a eficácia
da eliminação do carvão ativado, pode-se usar catártico. Catárticos aceleram a
eliminação do carvão ativado evitando que ocorra uma re-absorção do agente
adsorvido pelo carvão. Porém, catárticos não devem ser usados em animais que
apresentam diarréia ou que estejam desidratados.
Enemas também podem fazer
parte dos procedimentos de emergência. Esse procedimento é útil na eliminação
de toxinas provenientes do trato gastrointestinal. Carvão ativado pode ser
utilizado como enema. O uso de soluções de enema pré-misturadas para uso humano
é contraindicado para animais por causar distúrbios de desbalanceamento
eletrolítico. Técnicas gerais de enema envolvem o emprego de água morna é sabão.
Lavagem gástrica não deve ser
empregada em casos onde se suspeita de ingestão de destilados de petróleo. Essa
técnica requer emprego de anestesia geral.
Lavagem enterogástrica pode
ser necessária quando existiu uma exposição à agentes letais como estricnina,
metaldeídos, antidepressivos ou fluoracil.
Com relação a agentes que
podem ser utilizados na emergência para induzir vômito, existem vários, porém o
mais comum é o peróxido de hidrogênio (água oxigenada) 3%. A dose recomendada é
1 colher de chá (5ml)/2.5kg, e não se deve dar mais que 3 colheres de sopa
(45ml). A água oxigenada causa vômito através de uma irritação gástrica leve. O
vômito, geralmente, ocorre dentro de minutos.
Em ambiente hospitalar, a
apomorfina é amplamente utilizada (cuidado com uso em gatos). Geralmente é
administrada topicamente na conjuntiva. Raramente ocorre feitos adversos, mas
se isso acontecer, esses efeitos podem ser revertidos com naloxone.
Escrito por Luiz Bolfer, DVM - University of Illinois
- Veterinary Teaching Hospital