04/10/2010

A Linguagem Canina - Parte 2


Continuação do Texto "A Linguagem Canina", adaptado do cinólogo e adestrador, Bruno Tausz

A Linguagem Perceptiva do Cão

Quando se está aprendendo uma língua nova, num primeiro momento consegue-se entender algumas palavras, depois, frases inteiras e, só quando essa compreensão se torna fluente, arrisca-se pronunciar algumas palavras conhecidas e, somente mais tarde, adquire-se a capacidade de construir frases.

A capacidade de compreender a linguagem precede a habilidade de produzir sinais para comunicar-se, que é um nível superior da lingüística.

Nos cães, a habilidade perceptiva da linguagem é muito boa. Essa habilidade perceptiva pode ser notada quando há uma resposta adequada a palavras pronunciadas. As ações conseqüentes dessas palavras determinam o grau de compreensão de cada cão. O nível de treinamento canino corresponde, mais ou menos, ao grau de cultura ou ao nível de escolaridade no ser humano.

Os comandos de adestramento

Gritar com um cão é, praticamente, admitir que ele não ouve quando falamos baixo. O ouvido canino percebe uma faixa de freqüência sonora bem mais ampla que a nossa. Os tons apreciados pelos sensíveis ouvidos caninos são os suaves e baixos. Eles gostam imensamente de música suave. Quem fala alto com seus cães e os comanda militarmente, obtém efeitos de frustração e uma resposta muito limitada.

Existem várias palavras e frases curtas usadas como comandos, para que os cães realizem as tarefas desejadas. No entanto, há inúmeros gestos e ruídos que os cães reconhecem, às vezes, melhor do que palavras: apanhar a coleira; pegar as chaves do carro; o desembrulhar; o som da vasilha de comida; dar rápidos e repetidos tapinhas na coxa; bater palmas; estalar os dedos etc.

Minha experiência revelou que os cães são capazes de compreender até diálogos inteiros sobre assuntos de seus interesses sem que seja necessária a compreensão do significado específico de cada palavra.
Bater na coxa, por exemplo, é um gesto que quase todas as pessoas fazem para chamar seus cães tendo a mais absoluta certeza que virão sem, sequer, saber por que esse gesto tornou-se universal, no diálogo com eles.

Vamos tentar explicar: quando você chama seu cão pelo nome, pela maneira que você pronunciou, ele sabe se você está feliz ou aborrecido. Quando você o chama, dando repetidos tapinhas na coxa, está fazendo o mesmo ritual do rabinho abanando e ele sabe que você está feliz e vem correndo. Se você der uns tapinhas no sofá ele virá correndo para o sofá. Se, depois der uns tapinhas numa mesinha baixa ele, por associação, subirá na mesa. Dessa forma ele aprendeu que, dar tapinhas num plano mais alto, é para subir. São gestos que levam você, inconscientemente, a transmitir seus desejos a seu cão. Quantas vezes, vendo que você está triste, seu cão vem e deita-se a seu lado em silêncio ou se você está chorando, lambe seu rosto? Quantas vezes, vendo que você está aborrecido, seu cão vai, mansamente, para um canto da casa e fica quietinho?

Nas aulas de adestramento, notamos muitas vezes que, quando o dono está tenso, o cão trabalha inseguro e desatento. Não consegue concentrar-se e erra bastante - o cão também fica tenso e nervoso. Durante o treinamento a guia é o cabo de conexão entre o condutor e o cão. Através dele transmitimos nossas emoções, tensões e expectativas. Por exemplo: se você está passeando com seu cão com a guia relaxada e, na sua direção, vem um cão que você considera agressivo, automática e instintivamente, aplica uma certa tensão na guia. Isso passa tensão para o cão e ele fica inseguro. Mesmo que o outro cão seja inofensivo, ele poderá entender que ele oferece perigo e, para se defender, poderá tentar fugir ou atacá-lo.

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